Em nota emitida no dia 26 de janeiro, o Sindicato dos Jornalistas de Goiás e a FENAJ repudiaram a demissão de 23 profissionais do jornal O Popular e 8 da TV Anhanguera, ambos da Organização Jaime Câmara, de Goiânia. Já no Rio Grande do Norte, a Intertv Cabugi (afiliada da Rede Globo) demitiu 10 profissionais. O Sindicato do Rio Grande do Norte pediu a mediação da Procuradoria Regional do Trabalho e a reintegração dos demitidos.
No Rio Grande do Norte, as demissões ocorreram no dia 18 de janeiro. E em Goiás, ocorreram nos dias 21 e 22. Nos dois processos de demissão, os atingidos foram profissionais experientes. No caso do jornal O Popular, a maioria dos profissionais tinha entre 10 e 20 anos de tempo de serviço na empresa. “A primeira conclusão que se tira desse fato é que, no jornal O Popular, jornalista tem prazo de validade: quanto mais tempo de casa, mais perto está de perder o seu emprego”, diz a nota emitida pelo Sindicato de Goiás e FENAJ.
As entidades sindicais manifestam estranheza com as demissões na Organização Jaime Câmara, em Goiás, uma vez que o grupo atravessa um período de equilíbrio financeiro e desempenho lucrativo. E conclamam a sociedade a também se manifestar contrária ao abuso cometido contra os trabalhadores.
No caso potiguar, no pedido de mediação feito pelo Sindicato dos Jornalistas no dia 18 à Procuradoria Regional do Trabalho, a presidente da entidade, Nelly Carlos Maia, assinala que todos os dez demitidos “têm mais de dez anos de trabalhos prestados à televisão. Alguns trabalhavam desde a inauguração, há mais de 20 anos”. Destes, seis são jornalistas diplomados e quatro são repórteres cinematográficos.
Nas informações encaminhadas à Procuradora chefe do RN, Izabel Cristina de Ramos, o Sindicato dos Jornalistas denuncia problemas trabalhistas existentes na Intertv Cabugi, como acúmulo de funções, desrespeito à jornada de trabalho e não pagamento de horas extras. Entre os demitidos no RN, houve o caso de uma jornalista que passaria a gozar o direito de férias vencidas no dia seguinte a sua demissão.
Veja, a seguir, a íntegra da nota emitida pelo Sindicato dos Jornalistas de Goiás e FENAJ.
Nota de repúdio às demissões em massa no jornal O Popular
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás e a Federação Nacional dos Jornalistas vêm a público para repudiar a atitude da Organização Jaime Câmara de promover demissão em massa de trabalhadores do jornal O Popular, de sua propriedade. Nada menos do que 23 profissionais, a quase totalidade de jornalistas, foram demitidos entre os dias 21 e 22 de janeiro. Some-se a elas o anunciado corte da gratificação de função paga aos subeditores e outras oito demissões promovidas no Departamento de Telejornalismo da TV Anhanguera, também de propriedade da empresa. Um processo que foi marcado por um clima de terrorismo sobre a redação do jornal por mais de um mês.
O que causa estranheza nessa atitude é que a Organização Jaime Câmara atravessa uma fase não só de total equilíbrio financeiro, mas com resultados surpreendentes – a ponto de a própria direção da empresa ter anunciado, ainda em setembro de 2009, que a OJC fecharia o ano com um lucro de R$ 55 milhões. Ressalte-se que esse número foi corrigido dois meses depois, já que os resultados apontavam que seriam mais de R$ 60 milhões de lucro.
Portanto, não há que se alegar crise financeira para justificar as injustificáveis demissões. Pelo contrário, nem mesmo durante a recente crise econômica mundial as finanças dos veículos da Organização Jaime Câmara chegaram a ser abaladas. O período foi superado com crescimento no faturamento, inclusive com o pagamento do Programa de Participação nos Resultados, a despeito do achatamento salarial imposto aos trabalhadores da empresa.
No caso específico do jornal O Popular, há que se destacar que a maioria dos jornalistas demitidos contava com mais de 10 anos de casa, alguns com mais de 20 anos. A primeira conclusão que se tira desse fato é que, no jornal O Popular, jornalista tem prazo de validade: quanto mais tempo de casa, mais perto está de perder o seu emprego. Demissões isoladas, ocorridas nos últimos cinco anos, vêm corroborar essa afirmação.
Outra conclusão que pode ser tirada desse processo de demissão em massa é que, para a Organização Jaime Câmara, a única coisa que parece importar é sua sanha por lucros incessantes – a qualidade do produto fica para segundo ou terceiro plano. E isso tem ficado bastante nítido nos comunicados da direção da empresa aos funcionários – o objetivo é, antes de tudo, garantir mais lucros aos acionistas da empresa. O que se estranha é que, piorando a qualidade do produto, já que não há profissionais em número suficiente para garantir no mínimo o mesmo tipo de jornalismo que vinha sendo feito pelo jornal O Popular, certamente as vendas cairão, anunciantes podem deixar de anunciar. Com isso, dificilmente será atingido o plano de metas da Organização Jaime Câmara para este ano, que aponta para um resultado de R$ 90 milhões de lucro.
Por todas essas razões, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás e a Federação Nacional dos Jornalistas repudiam o processo de demissão em massa promovido no jornal O Popular e conclamam a sociedade a também se manifestar contrária a mais esse abuso cometido contra os trabalhadores.
Goiânia, 26 de janeiro de 2010.
Luiz Antonio Spada
Presidente do Sindicato dos Jornalistas
Profissionais no Estado de Goiás
Sérgio Murillo de Andrade
Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas
Na avaliação da diretora do SJSC Elaine Tavares, as situações em Goiás e no Rio Grande do Norte mostram que já começaram as demissões de jornalistas por formação para a contratação de não formados e com salarios mais baixos.
Fonte: FENAJ.