Apesar de uma tímida retomada na concessão de crédito para as pessoas físicas, os bancos brasileiros estão “inundados” de dinheiro como nunca, com sobra de recursos no curto prazo de R$ 444 bilhões. Para impedir que a taxa básica de juros caia abaixo dos níveis desejados, o Banco Central tem enxugado a liquidez empoçada por meio de empréstimos que toma do mercado nas chamadas operações compromissadas.
O excesso de liquidez se deve principalmente à política de compra de reservas internacionais no mercado interno de câmbio. Ao comprar dólares no Brasil, o BC entrega reais ao mercado. Esses reais podem ser retirados também por meio da emissão de títulos públicos do Tesouro Nacional. Acontece que desde meados de 2008 o Tesouro está atuando no sentido contrário e realizando resgate líquido desses títulos, o que acaba ajudando a ampliar a liquidez do curto prazo. Também a liberação dos empréstimos compulsórios a partir de outubro, em um total de R$ 100 bilhões estimados pelo mercado, contribuiu para aumentar a liquidez decorrente da política de compra de reservas do BC.
Com a crise do fim do ano passado, o BC até atuou na ponta contrária e vendeu US$ 14,533 bilhões entre outubro e fevereiro, enxugando reais do mercado. Mas, desse total, US$ 10,57 bilhões já foram recomprados no mercado à vista neste ano com a retomada do ingresso de dólares ao país.
Os recursos que sobram no curto prazo poderiam ser direcionados para o mercado de crédito se os bancos quisessem fazer esse tipo de ativo. Mas, ao que tudo indica, com o aumento da inadimplência das pessoas físicas e jurídicas os empréstimos ao BC continuam mais seguros e ainda bastante rentáveis. No total, a média diária de novas concessões de crédito no país – considerando-se as pessoas físicas e jurídicas – foi de R$ 6,63 bilhões em julho, último dado disponível, um volume 10,1% menor no ano e 2,3% em 12 meses.
Não é apenas no Brasil que os bancos estão com sobra de reservas no curto prazo. A injeção de liquidez dos bancos centrais em todo o mundo não está chegando às empresas.
(Fonte: Cristiane Perini Lucchesi – Valor Econômico)