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Já vai tarde, Gilmar!


Gilmar Mendes transferiu no dia 23 de abril o poder de presidente do STF (Supremo Tribunal Federal). Já vai tarde, dizemos nós, jornalistas. Nunca mais poderemos esquecer a tese do relatório apresentada por Gilmar e votada pelo pleno do Tribunal em 17 de junho de 2009. A forma e o conteúdo pensados por Gilmar Mendes abriram a permissão ao registro profissional de jornalista aos não-formados nos cursos específicos.

Gilmar Mendes errou feio ao confundir liberdade de se expressar, assegurado a todos os cidadãos pela Constituição, com exercício profissional. O exercício da profissão de jornalista, com ética e zelo, caráter público e desinteresse privado, não é um direito, mas uma obrigação somente dos jornalistas. A tese de Gilmar convenceu outros ministros, com exceção de um, e o Ministério do Trabalho e Emprego passou a aplicar a regra, mantida até o momento.

A regra que está em vigor por decisão do STF nos desagrada, não a queremos e não a defendemos. No entanto, ela é lei, até que os jornalistas, com o apoio da sociedade, derrubem e sepultem para sempre a tese vencida, ultrapassada e claramente de caráter político daqueles que somente defendem as leis do mercado e o Estado mínimo.

Ao deixar a presidência do STF, Gilmar Mendes poderá ter mais tempo para viver o mundo real dos jornalistas. Quem sabe, possa passar por aqui um dia desses, e, para compreender o que fazem e o motivo pelo qual vivem – e respiram – os jornalistas, visitar os colegas formados e que atuam em Turvo, Ermo, Sombrio, e aqueles que não deixam esquecer a existência de São José dos Ausentes.

Venha, ministro supremo, desça até Criciúma, Tubarão, Laguna e Imbituba; ou suba a Serra do Rio do Rastro, enterrando os pés na neve em São Joaquim, e sinta a pele queimada pelo vento na gelada Lages; passe em Correia Pinto e Otacílio Costa; entre nas redações de Curitibanos e Videira; veja o que é importante para a comunidade de Campos Novos e Herval Velho. Cruze a ponte que une Herval d’Oeste a Joaçaba. Conheça Jaborá. Gilmar Mendes, e depois de passar pelo trevo de Presidente Castello Branco, ande devagar na comunidade de Cachimbo, no interior de Concórdia: ali nasceu Leonardo Boff, filho de um mestre-escola.

Está cansado, ministro? Tem muito mais redações pra ver, e saber o motivo pelo qual formação para nós, jornalistas, não é importante, é essencial! Depois de Concórdia, parta ainda mais para o Oeste: Seara, Chapecó, Pinhalzinho, Maravilha, São Miguel do Oeste e Dionísio Cerqueira. Estacione. Chegamos na fronteira com a Argentina. Vamos por outro caminho, sabendo da vida dos jornalistas que nas redações e assessorias querem dar a todos o que foi de poucos: informação, notícia, conhecimento da realidade. Para isso, Gilmar Mendes, é preciso estudar.
Ou estão enganados os que saíram de Campo-Erê, Porto União, Canoinhas, Mafra, Monte Castelo, Salete, Petrolândia, Rodeio, Timbó, Benedito Novo, Gaspar, Tijucas, Navegantes, São Francisco do Sul, Jaraguá do Sul, São Bento do Sul (não se espante, ministro, estes três últimos municípios ficam ao Norte de Santa Catarina) para estudar, com o sonho de que sua profissão, de jornalista, é mais respeitada porque tem formação?

Cansado, Gilmar? São quase 300 municípios e temos ainda muito chão de redação e muita assessoria para conhecer. Depois, queria apresentá-lo às escolas de jornalismo de Santa Catarina. Vamos de volta ao Oeste. Como é longe, não é mesmo? Lá, nas cadeiras estofadas do STF, não dói tanto. Pense em quantas idas e vindas os estudantes da Unoesc-São Miguel do Oeste fazem em quatro anos, junte a estas as horas de estudo, insônia e transporte dos alunos da Uno-Chapecó e também, agora, aos do mais recente curso, da Celer-Xaxim. Adiante, Gilmar, ainda não saímos do Oeste, e isso só acontecerá depois que passarmos pela UnC-Concórdia e Unoesc-Joaçaba. Ufa! Quanta estrada! Mas tem mais pela frente.

Vamos agora voltar ao Sul. Antes, passamos pela Facvest-Lages, e encontramos em seguida a SATC-Criciúma e a Unisul-Tubarão, e corremos até Palhoça. Venha, Gilmar Mendes, veja aqui a Unisul-Pedra Branca. Vamos dar uma paradinha na UFSC-Florianópolis e depois na Estácio de Sá-São José? Cansa não, ministro, ainda tem quatro anos pela frente, pra uma boa formação. Venha e confira isso no curso de jornalismo da Univali-Itajaí, ou no IBES-Blumenau; caso prefira, pode ser na Unidavi-Rio do Sul. Para encerrar esse roteiro, ministro, faltou só o jornalismo do IELUSC-Joinville.

Vossa Excelência pode voltar a Brasília e contar que para fazer jornalismo em Santa Catarina – assim como em todos os Estados do Brasil -, com tantas regiões e realidades diferentes, cada canto com sua peculiaridade, o jornalista precisa de segurança, ética, certeza, conhecimento e técnica, que não é o mercado que oferece, e sim a Universidade!

Depois de Santa Catarina, Gilmar, aceite o convite de todos os demais Estados da federação. Com certeza, nos próximos quatro anos terá tempo suficiente para compreender o motivo pelo qual, no nosso tempo, esse que vivemos, jornalismo bom para a sociedade é aquele feito por jornalista formado!

*Presidente do SJSC

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