Tunísia: com a “Revolução do Jasmim” jornalistas tomam o poder nas redações
Tradução de Max Altman
Os jornalistas tunisinos, silenciados e amordaçados sob o regime do presidente deposto Ben Ali, levam a cabo sua própria “Revolução do Jasmim” assenhoreando-se da linha editorial nas redações, sem, por enquanto, exigir a saída de sua direção.
Fenômeno sem precedente, comitês de redação são formados nos meios de comunicação do Estado, nos jornais privados considerados próximos do antigo regime e até naqueles do ex-partido no poder, a União Constitucional Democrática (RCD por sua sigla em francês), cuja dissolução as massas populares estão a exigir nas ruas. “Somos nós que vamos decidir doravante a linha editorial” declarou Faouzia Mezzi, jornalista de La Presse, um jornal prestigioso que, sob Ben Ali, havia sido submetido totalmente às ordens de sua camarilha. “Nós constituímos dois comitês de redação, um para o La Presse, em francês, e outro para o Essahafa, cotidiano do mesmo grupo, em árabe, explica a senhora Mezzi, acrescentando que o diretor-geral do grupo está confinado, no momento, ao papel daquele que “assina os cheques” a fim de garantir o andamento da empresa.
O primeiro sinal de mudança nos meios de comunicação surgiu na noite que se seguiu à fuga de Ben Ali, na sexta-feira, 14 de janeiro, com o desaparecimento da tela da televisão pública do logo “Tunis7” em referência ao 7 de novembro de 1987, data em que o ex-presidente tomou o poder. “Televisão nacional », proclama o novo logotipo, sobre um fundo vermelho e branco, as cores nacionais. O tom mudou completamente no canal público, que dá, a partir de agora, a palavra aos antigos opositores e às pessoas da rua, e, de resto, organizando extensos debates.
“Não se exerce hoje qualquer censura”, indica Karima, uma jornalista do serviço de informações da rádio pública RTCI, porém “nós filtramos as informações tentando comprovar os fatos. A equipe de direção está em seu posto mas ela nos deixa fazer o nosso serviço de jornalistas”. O mesmo ocorre com o grupo de mídia próximo do antigo poder, o Al-Anouar, que possuiu quatro títulos. “Os redatores-chefes desapareceram mas os jornalistas continuam a trabalhar”, informa Chokri Baccouche, redator-chefe adjunto de um dos títulos.
A tomada do poder aconteceu igualmente na Radio Mosaique FM que pertence a pessoas próximas de Ben Ali. “Decidimos tomar em nossas mãos a linha editorial da rádio para que ela possa transmitir a voz dos tunisinos sejam quais forem as suas opiniões e a que agrupamento pertençam” anunciaram num comunicado os novos dirigentes, os jornalistas e os empregados da estação radiofônica.
(Legenda: Manifestante segura faixa que pede a saída do RCD, partido do presidente deposto Zine al-Abidine Ben Ali, do novo governo interino, durante protestos nesta terça (18), em Túnis. Foto Zohra Bensemra / Reuters)