Participante questiona lisura no processo de premiação
Para o jornalista Geraldo De Cesaro, estar entre os finalistas e, principalmente, ser vencedor do Prêmio Esso sempre foi um reconhecimento nacional para todos os jornalistas. Na edição de 2009, porém, a indicação ao prêmio se tornou uma grande decepção para ele, 51 anos, 21 dos quais dedicados ao Diário Catarinense, jornal catarinense pertencente ao grupo gaúcho RBS.
Ele coordenou a equipe do DC na cobertura do flagelo da chuva, que atingiu, principalmente, o Vale do Itajaí e o Norte do Estado, em novembro de 2008, e a série de reportagens ficou entre as três melhores na categoria Regional 2. Relata que todos os finalistas foram convidados para uma cerimônia no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, evento realizado na noite de 8 dezembro de 2009. Entre a cobertura do flagelo da chuva e a divulgação dos finalistas do Prêmio Esso, foi demitido, “sem justa causa, é bom que fique claro, pelo novo editor-chefe do Diário Catarinense, Nilson Vargas”, frisa ele. Mesmo assim, como o convite era pessoal, ele esteve no Rio de Janeiro, pois tinha muita esperança de ganhar o prêmio.
Um fato isolado foi o suficiente para deixá-lo revoltado. Na entrega da premiação, só em duas categorias os organizadores colocaram no quadro os concorrentes ao mesmo tempo: Interior e Regional 2. Nas demais, os três finalistas eram mostrados e, dali, saiu um vencedor. Salienta que por ironia do destino, coincidência, ou por outro motivo, nas categorias em que concorriam reportagens dos jornais do Grupo RBS, os seis trabalhos foram para o telão ao mesmo tempo. Em consequência, foram premiados a Tribuna de Santos e o Jornal de Santa Catarina. Os dois concorriam na categoria Interior. Dos três trabalhos finalistas na categoria Regional 2, entre Diário Catarinense, Zero Hora e Correio Braziliense, não houve vencedor. “Quer dizer: categoria sem vencedor, enquanto na categoria Interior houve dois vencedores. Como explicar isso?”, exclama o jornalista
Os finalistas das duas categorias em questão eram os seguintes:
INTERIOR: 1 – Suzana Fonseca e Tatiana Lopes, com o Caso Alessandra – A Tribuna (Santos); 2 – Diego Barreto e Ari Lopes, com Doca e Sônia – Codinomes Liberdade – jornal O São Gonçalo (Rio de Janeiro); 3 – Edgar Gonçalves Junior e Equipe, com Novembro de 2008 – o maior desastre climático do Brasil – Jornal de Santa Catarina (Blumenau).
REGIONAL 2: 1 – Lúcio Vaz e Daniel Antunes, com O sertão que o PAC esqueceu – Correio Braziliense; 2 – Carlos Etchichury e Daniel Marenco, com o trabalho No corredor do inferno – jornal Zero Hora; 3 – Geraldo De Cesaro e Equipe, com o trabalho O flagelo da chuva – Diário Catarinense.
Segundo Geraldo, há pelo menos quatro explicações que fazem muito sentido:
1 – Como na categoria Interior, o Jornal de Santa Catarina concorria, com poucas chances, com a Tribuna, de Santos; e como a reportagem do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, tinha poucas possibilidades diante do trabalho do Diário Catarinense, o Grupo RBS só teria chances de ganhar o Prêmio Esso de Jornalismo 2009 com a reportagem O Flagelo da Chuva, publicado no DC, cujo titular acabara de ser dispensado.
2 – O DC, em 23 anos de história, nunca ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo. Ganharia em 2009. Mas se tudo transcorresse dentro do normal, como o Grupo RBS explicaria a seus colaboradores e, principalmente, aos leitores, que o prêmio inédito estava sendo recebido por um profissional demitido depois de mais de duas décadas de dedicação ao Diário Catarinense, sendo 18 anos como editor, marca jamais atingida por outro profissional do DC. Ele disse que estava sozinho na cerimônia no Rio de Janeiro. Ninguém da empresa o acompanhou para receber o prêmio, se o DC fosse vencedor. “Os fatos sugerem que não havia interesse da empresa para que isso acontecesse”.
3 – Três profissionais do Grupo RBS integravam o grupo de jurados: Claudio Thomas, ex-editor-chefe do DC e que, antes da entrega da premiação, confirmou, segundo Geraldo, que o Jornal de Santa Catarina seria um dos premiados. E o gerente-geral do JSC, Bruno Watté, estava na cerimônia para receber o prêmio, junto com o editor-chefe, Edgar Gonçalves Junior, titular da reportagem finalista daquele veículo, na categoria Interior. Portanto, não na categoria em que o DC estava concorrendo. Também integravam o júri, conforme relação divulgada pelos promotores, Domingos Aquino, editor-chefe do jornal A Notícia, de Joinville; e Luiz Adolfo, editor responsável pela parte visual dos jornais do Grupo RBS.
4 – Pelo menos seis veículos de reconhecida credibilidade na imprensa nacional divulgaram, via internet, entre os dias 8 e 9 de dezembro de 2009, que o DC havia sido o vencedor do Prêmio Esso de Jornalismo, categoria Regional 2. Geraldo informa que foram os casos do portal G1 (Rede Globo); Agência Estado; jornal O Dia (RJ), revista IstoÉ Notícia, Associação da Imprensa de Pernambuco e o Observatório da Imprensa (Geraldo tem em mãos cópias dessas divulgações).
O jornalista se pergunta como pode esses veículos de comunicação anunciarem que o trabalho O Flagelo da Chuva havia sido vencedor, se, na hora da cerimônia, o DC não foi chamado para receber o prêmio? “É possível e, até provável, que na hora da votação dos jurados, o DC havia levado o prêmio em sua categoria. A relação dos vencedores vazou e parte da imprensa divulgou os ganhadores. Houve mudança na regra do jogo. O trabalho do DC foi retirado da disputa e, para o Grupo RBS não ser prejudicado, duas categorias foram colocadas num mesmo quadro. Assim, o Jornal de Santa Catarina pôde ser premiado e eu, que receberia o prêmio contra a vontade dos que mandam no DC, vi meu sonho se transformar em pesadelo”. Ele frisa que não foi apenas o único prejudicado: “e os demais jornalistas do DC que participaram daquela cobertura, e que continuam na empresa, como ficam? Se não foi isso que ocorreu, como justificar a divulgação de que o DC tinha sido vencedor?”.
Geraldo apresenta abaixo a Comissão de Seleção do Prêmio Esso 2009, constituída pelos seguintes jornalistas:
Adriana Santiago – Diário do Nordeste (Fortaleza);
André Balocco – Jornal do Brasil (Rio de Janeiro);
Álvaro Duarte – Estado de Minas (Belo Horizonte);
Ascânio Seleme – O Globo (Rio de Janeiro),
Carlos Alexandre Souza – Correio Braziliense (Brasília);
Claudio Thomas – Diário Gaúcho (Porto Alegre) – Grupo RBS;
Domingos Aquino – A Notícia (Joinville) – Grupo RBS;
Elaine Gaglianone – O Dia (Rio de Janeiro);
Erick Guimarães – O Povo (Fortaleza);
Fábio Gusmão – Extra – Rio de Janeiro;
Francisco Camargo – Gazeta do Povo (Curitiba)
Fritz Utzeri – Associação Brasileira de Imprensa (ABI);
José Márcio Mendonça, colunista e Laurindo Ferreira – Jornal do Commercio (Recife);
Luiz Adolfo – Porto Alegre – Grupo RBS;
Luiz Henrique Fruet – escritor;
Maria Cristina Fernandes – Valor Econômico (São Paulo);
Marília Scalzo – jornalista;
Mário Marinho;
Marlene da Silva Lopes – A Tarde (Salvador);
Moisés Rabinovici – Diário do Comércio (São Paulo);
Nelson Homem de Mello – Correio Popular (Campinas);
Nelson Lemos – NVL Comunicação (Rio de Janeiro);
Paula Losada – Diário de Pernambuco (Recife);
Paulo Marcos de Mendonça Lima – fotógrafo.
Explicações do coordenador da promoção
O jornalista, não satisfeito com a maneira como ocorreu a premiação, foi em busca de explicações. Entrou em contato com Ruy Portilho, coordenador da premiação, e recebeu a seguinte resposta, por e-mail:
“As comissões de julgamento do Prêmio Esso possuem a faculdade de agrupar as categorias em exame e, do novo conjunto, apontar os vencedores. Isso vem sendo feito desde que o modelo de indicação de trabalhos finalistas foi instituído há 15 anos. Desconhecemos a existência de notícias diferentes do resultado oficial, mas, se existiram, são de responsabilidade de cada veículo. O comunicado oficial do Prêmio Esso, com a relação completa dos premiados, reproduz fielmente a decisão da Comissão de Premiação tornada pública na cerimônia do dia 8 de dezembro no Copacabana Palace. A Newsletter Jornalistas e Cia, única a conhecer os vencedores com antecedência, por nosso intermédio, na tarde do dia 8 de dezembro, publicou corretamente, no dia seguinte, o que somente seria de conhecimento de todos os presentes à cerimônia horas mais tarde. Em outras palavras, a informação dando conta dos vencedores, oriunda da organização do Prêmio Esso, foi sempre a mesma, tanto no dia 8, quanto no comunicado oficial do dia 9.”
Para Geraldo De Cesaro, depois dessas explicações de Ruy Portilho, cabe a cada um julgar se houve ou não manchas nesse concurso. Para o jornalista que se sentiu prejudicado, há muitas dúvidas sobre a legitimidade da premiação, considerando os fatos narrados por ele, e das provas que conseguiu juntar.
Com informações do jornalista Geraldo De Cesaro