A educação é um direito de todos e um dever do Estado. Por isso, cabe ao poder público estabelecer uma política educacional que prepare as pessoas, dentro de uma perspectiva libertária, para atuarem conscientemente no desenvolvimento da sociedade. Isso tem que acontecer do ensino primário ao universitário. Para tanto, é preciso boas escolas, excelentes laboratórios, grandes bibliotecas e salários justos para os professores e os funcionários ligados à educação. Na Coreia do Sul professor e engenheiro recebem a mesma remuneração.
Campanhas em favor da educação deve fazer o Estado e não empresas privadas. O Banco Mundial, com sede nos Estados Unidos, a partir dos anos 1980, deixou de se preocupar só com dinheiro e passou a se meter na educação. Sabem por que? Este banco estava interessado em se apropriar de toda a pesquisa feita nas universidades latino-americanas para repassá-las às empresas multinacionais. Isto é um crime, já que as universidades públicas são custeadas pelo dinheiro do contribuinte e devem fazer ciência e produzir conhecimento para melhorar a vida da população e não de proprietários de grandes empresas.
Portanto, muito cuidado com o “Prêmio RBS de Educação – para compreender o mundo” lançado ontem em todo o Estado de Santa Catarina. A RBS faz campanha em favor da educação, como também do agasalho, com o único objetivo de ser bem vista pela população e logo em seguida fazer com que esta mesma população acredite nas notícias que ela divulga.
Por que a RBS não faz campanha em favor de um salário melhor para todos os professores de Santa Catarina? Por que a RBS não faz campanha por um salário mínimo mais condizente para realizar o bem estar do povo brasileiro? Por que a RBS não paga um salário melhor para seus jornalistas?
A senhora Sirlei é uma mulher simples que mora em um bairro pobre de Florianópolis, a Serrinha. Tem dois filhos que estudam em uma escola pública. Às vezes, ela leva o filho para o trabalho quando não há aula. Ela escutou na TV o “Prêmio RBS de Educação” e toda a explicação dada e virando-se para mim disse: “Isso é propaganda enganosa”.
Não basta, apenas, fazer campanha em favor da leitura. É preciso saber o que lê; é importante discutir o que se lê; é necessário criticar o que se lê. Este é o verdadeiro trabalho de qualquer pessoa que luta para que a sociedade seja mais consciente de seus problemas, se organize e promova a solução de seus conflitos. E cabe ao professor e a professora em sala de aula estimular isso.
Claro que o “Prêmio RBS de Educação” não vai realizar este trabalho. Espero que todos os professores do Estado de Santa Catarina não se deixem enganar pelo canto da sereia e denunciem em sala de aula, a seus alunos, a farsa do “Premio RBS de Educação”. E denunciem, também, a presença vergonhosa do secretário de Educação do Estado – Eduardo Dechamps – e do secretário municipal de educação de Florianópolis – Rodolfo Pinto da Luz – , no lançamento deste prêmio.
A educação não é mercadoria!
Autor:Waldir Rampinelli – Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)