O Fórum Social Mundial tem comprovado a força da organização civil. No Senegal esta constatação mostra reforço todos os dias. Apesar deste fato, um segmento específico chama a atenção: as mulheres. Com espaços específicos de debate sobre feminismo, liberdade em contextos religiosos conservadores e machistas e organização pelo avanço dos direitos das mulheres, “les Femmes” têm tomado conta dos focos de debate em Dakar. Mulheres de todas as partes do globo circulam pelas ruas com uma altivez merecida, já que hoje elas representam a maior parte da força organizada na maioria dos países do mundo. Essa afirmação pode ser comprovada em uma volta rápida pelas ruas da Universidade Cheikh Anta Diop de Dakar, onde de longe se pode notar que a maioria das organizações conta com um número maior de mulheres no seu corpo gestor. Também se pode notar que, proporcionalmente, o número de organizações voltadas para a luta das mulheres pelo mundo é maior do que em qualquer outro segmento.
Um exemplo de uma das tantas mulheres que lutam por liberdade, não só “delas” como de todos, é Audrey Dye, uma francesa que mora na Bélgica e trabalha pelo “perdão” – se é que podemos assim chamar – da dívida externa dos países pobres do globo. Durante uma breve conversa o jornalista passou de entrevistador a entrevistado, pois Audrey fez questão de “testar” os conhecimentos do repórter brasileiro em relação a geopolítica, economia e direitos humanos. Sua primeira pergunta foi a respeito da crise financeira, suas razões e repercussões. Partilhando o entendimento dos movimentos sindicais e de militantes sociais, chegamos ao consenso de que a crise é uma invenção do Capital para manutenção de políticas de exploração e retirada de direitos trabalhistas. Sei que não descobrimos juntos a roda, nem inventamos uma nova interpretação sobre o tema, mas corroboramos com uma opinião que tem implicações interessantes na construção de um novo olhar para a atual conjuntura global em termos de políticas econômicas e sistemas políticos.
Além da franco-belga, senegalesas, tunisianas, panamenhas, espanholas, egípcias e outras tantas mulheres de todas as nacionalidades demonstram um grau de conhecimento sobre diversos temas, o que deixa muitos homens no “chinelo”. Um outro exemplo interessante é que, assim como em muitos países, os bancos facilitam o acesso ao crédito somente para as mulheres. Segundo as senegalesas, isso acorre porque os banqueiros confiam mais nelas, pois os homens – nem todos – gastam o dinheiro com bebida, jogo e… mulheres! Como responsáveis históricas pela criação dos filhos e gestão do lar, as mulheres têm se tornado o principal alvo de políticas de acesso ao crédito e fomento ao consumo.
Uma reunião do Comitê de mulheres sindicalistas abordou justamente esse tema, além das bandeiras do feminismo. Com um olhar mais sensível e capacidade maior de administração, elas representam um futuro menos opressor. Quando Che Guevara disse: “hay que endurecerse sin perder la ternura”, talvez ele se referisse às mulheres, ou talvez, quem sabe, ele tenha se inspirado nelas.
Texto e fotos de Osíris Duarte, jornalista catarinense em Dakar. Para Sindicatos de SC