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Porque defender o diploma

A exigência do diploma para jornalistas exercerem a profissão foi aprovada no Senado, quase por unanimidade, pois apenas dois senadores votaram contra. Ainda que a matéria dependa da Câmara, conclui-se haver sido feita justiça, depois que o Supremo Tribunal Federal, em 2009, pronunciou-se contra a obrigatoriedade do diploma.

A maioria dos barões da imprensa coloca-se contra a emenda constitucional, assim como aquele bando de jornalistas sabujos, empenhados em bajular o patrão. Além, é claro, de uns poucos bem intencionados coleguinhas que tem todo o direito de pensar e de manifestar-se como bem entendem.

O argumento fundamental contra o diploma continua pueril: dizem que vai atropelar a liberdade de expressão. Mentira. Acrescentam que o dom de escrever nasce com o indivíduo e que a limitação agride a liberdade. Outra mentira. Ninguém está proibido de escrever em jornal ou de expressar-se pela mídia eletrônica. Apenas, quem não tiver diploma atuará como “colaborador”. Como jornalista, só quem tiver adquirido nos bancos universitários a gama variada de conhecimentos imprescindíveis ao exercício da profissão. Porque ser jornalista não é apenas dispor do dom de escrever ou manifestar-se pelas câmaras e microfones. Exige saber editar, selecionar, apurar, ponderar, respeitar, diagramar, resumir, coordenar e chefiar, predicados mais fáceis de adquirir os que receberem lições ordenadas de Ética, História, Política, Economia, Geografia, Psicologia e quanta coisa a mais?

Replicam os inimigos do diploma que as Faculdades de Jornalismo são fracas, falhas e lamentáveis, deixando de preparar os jovens para a profissão. Ainda que fosse verdade, e não é, a solução parece longe daquela dada pelo cidadão que para acabar com o adultério da mulher decidiu retirar o sofá da sala. Que se melhorem os currículos, que se fiscalize o ensino, que se acabe com os estabelecimentos “PP”, aqueles do “pagou, passou”.

Quanto ao dom de escrever, basta lembrar que o “seu” Manoel, dono do açougue ali da esquina, é um craque na arte de cortar carne. Tira cada filé de dar água na boca. Por isso deve trocar o avental por um jaleco e operar alguém de apendicite, no hospital ao lado? O camelô da rodoviária dispõe de excepcional dom de oratória. Vende tudo o que apresenta em sua bancada. Estará livre para vestir a beca, entrar no tribunal e defender um réu?

A conquista do diploma para jornalista exprimiu a mesma progressão de outras exigências. Antes das escolas de medicina os curandeiros podiam exercer a profissão. Hoje, não podem mais. Vale o mesmo para os advogados, os engenheiros e os arquitetos, entre tantas outras atividades.

Quem assina estas considerações é jornalista desde 1958, sem jamais haver cursado Faculdades de Comunicação. Naqueles idos, depois de alguns meses na profissão, ia-se ao ministério do Trabalho para o registro profissional, claro que endossado pela empresa na qual trabalhava. Formavam-se assim os jornalistas, que necessitavam preencher o vazio da teoria pela prática continuada. Ficaram lacunas, hoje preenchidas pelo diploma.

Mais um adendo: tirando os que honestamente pensam contra, os demais que se opõem escondem a verdadeira razão de porque assim se posicionam: porque é nos bancos universitários que a categoria se aprimora, adquire amor próprio, sentimento de classe e força para exigir das empresas melhores salários,condições de trabalho e respeito à honestidade e veracidade da notícia. Seria preferível, para os barões, dispor apenas da facilidade de escolher sabujos incapazes de pensar e discernir, adeptos da subserviência a interesses nem sempre verazes e honestos…

Autor:Carlos Chagas

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