No país em que uma mulher é morta a cada duas horas e um estupro acontece a cada 11 minutos, o 8 de Março é mais do que uma data simbólica. Marca a necessidade de se construir um pacto social, cada vez mais urgente, pela equidade de gênero, capaz de levar ao fim do racismo, do machismo, do sexismo, da misoginia, da LGBTIfobia, da violência e do feminicídio.
É certo que a luta das mulheres precisa ser todas as horas. Mas estar nas ruas no Dia Internacional da Mulher nunca foi tão importante para as brasileiras, inclusive para as jornalistas, que aliam todo tipo de discriminação à luta pela liberdade de imprensa e pelo direito de exercerem sua profissão em meio a uma democracia fraturada.
É neste cenário adverso, no qual as forças conservadoras e fundamentalistas se unem aos neoliberais para arrancar direitos sociais e impor a pauta dos costumes, que a mulheres saem às ruas e reforçam a disposição de lutar por direitos, condições de trabalho e pela própria vida.
As mulheres são 64% da categoria, mas ainda recebem salários menores que os colegas – e não ascendem aos postos de comando. Esse dado fica ainda mais alarmante quando nos referimos às companheiras negras, historicamente o setor da classe trabalhadora mais penalizado, numa realidade em que o racismo estrutura as relações de trabalho, assim como o classismo e o sexismo.
O estereótipo de que o Jornalismo não é uma carreira “adequada” para as pessoas do gênero feminino ainda persiste. Essas normas sociais discriminatórias limitam as oportunidades de desenvolvimento profissional das mulheres.
Ao menos 78,5% das jornalistas já enfrentaram algum tipo de atitude machista durante entrevistas. E mais de 70% delas disseram que já deixaram de ser designadas para uma pauta pelo fato de ser mulher.
E não para por aí: 70% das mulheres jornalistas das redações se sentiram desconfortáveis por causa de comentários sobre sua aparência; 46,3% receberam cantadas de colegas homens, 36,9%, de fontes masculinas e, 27,9%, de superior hierárquico.
Mais expostas a ataques on-line do que seus colegas homens, as mulheres jornalistas vivenciaram, nos últimos anos, o aumento de insultos e assédios. Entre as formas mais frequentes de violência virtual estão o monitoramento e a perseguição, a publicação de dados pessoais, descrédito, difamação e desqualificação pessoal e profissional.
Pouco antes do 8 de Março deste ano, o país assistiu, entre incrédulo e revoltado, o representante máximo da Nação desferir, além da injúria, todo seu machismo, sexismo e misoginia contra jornalistas que simplesmente fizeram o seu trabalho. Quebrando o decoro que o cargo lhe impõe, Jair Bolsonaro atingiu todas as mulheres trabalhadoras e, sobretudo, as jornalistas.
Assim, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) exige do Estado brasileiro o reconhecimento público de que a violência e a discriminação de gênero enfrentadas por jornalistas são um ataque às liberdades de expressão e de imprensa.
É preciso garantir que exista uma estrutura legal adequada para coibir a violência de gênero contra mulheres, inclusive as jornalistas, e que não haja barreiras ao acesso à justiça. Além disso, faz-se necessário que os empregadores garantam a existência de políticas de prevenção e resposta aos assédios moral e sexual no trabalho.
Como protesto e denúncia, a FENAJ, por meio da sua Comissão de Mulheres, conclama as jornalistas brasileiras a estarem nas ruas no 8 de Março e a lutar em defesa do livre exercício profissional, da democracia, e, acima de tudo, contra o fascismo que assombra o Brasil.
As profissionais do Jornalismo também estão sendo convocadas pelos Sindicatos da categoria a aderirem ao Dia de Luta das Mulheres Jornalistas, em 9 de março, data em que irão se vestir da cor do feminismo, o lilás, como forma de protesto nos ambientes de trabalho, ecoando o grito “Lute como uma jornalista!”
Brasília, 6 de março de 2020
Comissão de Mulheres da FENAJ
Federação Nacional dos Jornalistas