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Um passo adiante

O texto a seguir é uma confissão. Portanto, é de sentimento. Não é assinado pelo presidente do Sindicato. É um jornalista que o conta porque viveu e viu uma intensa batalha de posições ser travada desde janeiro até março de 2011. Nada espere de político, no sentido que esta palavra carrega em nosso meio. O texto pretende ser a lembrança de uma história dos dias que antecederam a derrubada do veto do Executivo estadual ao Projeto de Lei 63/2010 fora da continuidade de tempo, talvez porque me seja mais caro o sentimento que recebi de cada um e cada uma com quem passei janeiro, fevereiro e março de 2011, tempo em que dormi e acordei com esse tema.

Confesso que resisti em escrever. Logo na manhã seguinte à derrubada do veto, o Sindicato retomou sua trilha normal, em que as questões das relações de trabalho e emprego são muito urgentes. Tratamos, agora, do encaminhamento e solução da preocupante situação dos colegas do jornal A Notícia, em Joinville, e em seguida, assembléia geral, na noite de 31 de março, e a organização de eventos e mobilizações no Estado em comemoração ao Dia do Jornalista.

Não foram apenas as tarefas de um sindicato que poderiam me levar a não escrever sobre a retomada do diploma na esfera governamental em Santa Catarina. Penso que tem a ver com a realidade das coisas. Precisava responder-me a pergunta: quem, em estado normal de sanidade, poderia admitir um jornalista sem formação específica, quando o nosso tempo, esse que vivemos agora, exige cursos, especializações e cada vez mais tempo de escola? A súmula do Supremo Tribunal Federal que trata deste assunto é um instrumento insano, porque irreal para o Brasil!

Escrever sobre a derrubada do veto ao PL 63 deve passar por citações, porque me tocam os compromissos. Inicio pela Direção do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, que na medida do que pôde fazer, permitiu-me ficar quase 60 dias, quase todos os dias da semana em que houve sessão, na Assembléia Legislativa, o que me proporcionou conhecer mais os deputados e as suas percepções sobre os jornalistas, assim como pude sentar ao lado, conversar, apertar a mão e trocar idéias com os mais de 60 jornalistas que atuam nos gabinetes de parlamentares e na assessoria da Assembléia, assim como com os colegas das empresas de comunicação com quem me encontrei durante as suas pautas.

Meu sentimento com relação aos momentos que passei com os colegas jornalistas da Assembléia Legislativa me obriga a agradecer a todos, porque pude ver o empenho dos assessores integrantes desta categoria nesta luta que foi e é coletiva. Desde o vigor e disposição da Luana, do gabinete de Gilmar Knaesel (PSDB), e Jocimar, assessor de Jorge Teixeira, passando pelos longos aconselhamentos com Pedro, da bancada do PMDB, e Felipe, do PT, as análises com Alexandre, do gabinete do Sargento Amauri (PDT), às entradas e saídas do gabinete da deputada Ada (PMDB), para conversas com Patrícia, e com Cavalazzi, de Ângela, do PCdoB, assim como as constantes conversas com Ana, do gabinete do deputado Dado (PSDB), e ao Fogaça, assessor do deputado Ponticelli (PP), sem esquecer do colega Cássio (Padre Pedro, PT). Jamais esquecerei a vontade com que a jornalista Carla Rech, assessora do líder da bancada governista, Elizeu Mattos (PMDB), buscou a solução das dúvidas e o quanto se empenhou em favor da categoria, assim como a jornalista Tamy e o deputado-presidente, Gélson Merísio (Dem).

Retornarei a estes que citei, e a todos os demais gabinetes da Assembléia Legislativa, porque é minha obrigação refazer o caminho que iniciei no primeiro dia de fevereiro, quando entreguei um pacote com a logomarca do Sindicato, com documentos que comprovam que até mesmo o Supremo Tribunal Federal exigiu formação em jornalismo dos seus jornalistas dias depois de derrubar nosso diploma. E já nesta primeira conversa busquei o apoio de todos e para que apoiassem o Sindicato no convencimento dos deputados que assessoram que derrubar o veto do PL 63 é assegurar o direito a uma informação de melhor qualidade e comprometida com a verdade.

Ainda na Assembléia, deve ser agradecida a sensibilidade da jornalista Lúcia Helena, que me acalentou quando tudo parecia sombrio, que me deu forças quando, depois de conversas nos corredores ou com algum líder de partido, nasciam mais dúvidas do que certezas. Foi ela e com ela que pude me apoiar, confessar, ouvir e voltar ao plenário ou aos gabinetes com mais esperança e com a certeza de que no dia certo e na hora certa, o veto seria derrubado. Com a mesma intenção, olho para a participação do jornalista Moacir Pereira, em quem vi o sangue ferver por alguns instantes, cerca de 20 minutos antes da votação de 30 de março, ao fazer a defesa dos jornalistas. Tenho a certeza de que naquele momento, com as palavras de Moacir, o deputado que estava na dúvida entre grudar nosso selo do diploma em seu paletó ou guardá-lo no bolso, a dúvida foi desfeita.

Aos colegas Aderbal Machado, de Balneário Camboriú, com quem tive acalorado debate na primeira vez em que ao veto entrou em pauta, e Oscar Lobo, que no Sindicato debateu sua tese por quase 2 horas, e a todos os demais jornalistas anteriores a 1979, reafirmo o compromisso do Sindicato de, na regulamentação da lei, assegurar o direito que lhes é devido.

Uma lei que regulamente o acesso dos jornalistas às funções públicas do Estado também tem apoio no Executivo. A diretora de Imprensa do Governo, Cláudia, foi incansável ao abrir portas e ao meu lado debater o tema com o governador Raimundo Colombo e com o procurador Zanini, com quem nasceu a tese do veto. Durante algum tempo, tive a esperança de que o Governo faria um texto e o remeteria na reforma administrativa. Mas essa idéia, que resolveria a questão definitivamente, por algo que nunca será totalmente esclarecido, não ser concretizou.

Por fim, faço, como jornalista com diploma, um sincero e fraternal agradecimento ao deputado Kennedy Nunes (PP), autor do PL 63/2010, porque nunca desistiu e se manteve confiante. Desde o primeiro momento, foi positivo. Quando, por telefone, disse a ele que o veto estava posto, de imediato respondeu: “Vamos trabalhar e derrubar o veto”. Nosso trabalho para derrubar o veto é dedicado aos jornalistas que estão vindo, acadêmicos que estiveram na Assembléia Legislativa dia 30, e àqueles com quem conversei nos cursos da Estácio, Unisul e UFSC. Se em algum tempo alguém cedeu os anéis, pensando em não perder os dedos, é hora de retomar, coletivamente, o que ficou pelo caminho. A nossa luta, a luta pela formação dos jornalistas continua nas propostas de emendas constitucionais, no Congresso Nacional, e até lá, em Santa Catarina, pelo Sindicato, com a implementação de leis nos Municípios, que assegurem a exigência da formação superior em jornalismo para o exercício das atividades da categoria.

Autor:Rubens Lungejornalista e presidente do SJSC

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