Em 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, FENAJ publica novos dados de ataques do Presidente da República contra o Jornalismo e os jornalistas: foram 179 agressões em quatro meses.
O tema de 2020 para celebrar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) é “Jornalismo sem medo ou favor”, uma referência ao contexto de pandemia que vivemos.
Mas no Brasil, o medo a ser enfrentado não é somente dos riscos do vírus, deixando um rastro de incertezas e luto. No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a maior ameaça aos jornalistas brasileiros é o Presidente da República, Jair Bolsonaro, que também se coloca como a maior ameaça ao combate à pandemia no país.
De acordo com monitoramento realizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), somente no ano de 2020 Bolsonaro proferiu 179 ataques à imprensa, sendo 28 ocorrências de agressões diretas a jornalistas, duas ocorrências direcionadas à FENAJ e 149 tentativas de descredibilização da imprensa.
No mês de abril, foram 38 ocorrências, sendo seis ataques a jornalistas e 32 casos de descredibilização da imprensa. Em 2019, a FENAJ monitorou os pronunciamentos oficiais do presidente Bolsonaro publicados como entrevistas e discursos pelo site do Planalto e as postagens no perfil pessoal no Twitter, que também é vinculado ao Facebook. Em 2020, o monitoramento estende-se às lives e vídeos publicados no Youtube, nos quais os ataques ocorrem com mais frequência, por serem feitos em frente ao Planalto, onde os profissionais jornalistas aguardam diariamente os pronunciamentos do presidente.
As declarações continuam agressivas quando relacionadas ao contexto do coronavírus. Ele tenta responsabilizar a imprensa por um “caos” ou “histeria” com relação à doença,e chegou a chamar os profissionais de “urubus”, além de zombar das condições de trabalho dos profissionais jornalistas enquanto esperam por suas declarações afrontosas.
A importância do jornalismo no combate ao coronavírus é reconhecida mundialmente. Em pronunciamento pelo Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou que “Jornalistas e profissionais da mídia são cruciais para nos ajudar a tomar decisões informadas. À medida que o mundo luta contra a pandemia da Covid-19, essas decisões podem fazer a diferença entre a vida e a morte”.
A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, cunhou o conceito de “infodemia”, para contextualizar o que seria “uma segunda pandemia de desinformação”, com boatos que vão “desde conselhos prejudiciais à saúde até teorias conspiratórias ferozes”. E que “a imprensa fornece o antídoto”.
“O mundo todo está vendo desde o início do ano quais as medidas de combate à propagação da doença que dão certo e em quais países outras ações deram errado. E essas informações chegam até os brasileiros pelos jornalistas, que apuram, que fazem o processo de checagem, que se colocam em risco para exercer a profissão. E no Brasil quem mais propaga desinformação e ataques à nossa profissão é o presidente. O monitoramento da FENAJ materializa esses dados para a sociedade”, denuncia Paula Zarth Padilha, diretora da FENAJ responsável pelo monitoramento, junto com o também diretor Márcio Garoni.
Para Márcio Garoni, nesse contexto do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o presidente é mais incisivo nos ataques a jornalistas. “Em frente ao Planalto, enquanto zomba de jornalistas aglomerados e isolados por grades, Bolsonaro se recusa a responder, ofende os repórteres, zomba das condições de trabalho dos profissionais jornalistas”, contextualiza.
A postura hostil de Bolsonaro com a imprensa tem incentivado a violência contra jornalistas por seus seguidores. Neste 1º de Maio, Dia Internacional da Classe Trabalhadora, apoiadores de Bolsonaro agrediram jornalistas em Brasília. No dia seguinte, em Curitiba, os jornalistas foram novamente vítimas de agressões físicas por parte de apoiadores de Bolsonaro, em frente à sede da Polícia Federal, onde o ex-ministro Sérgio Moro prestava depoimento com acusações contra o presidente.
A presidenta da FENAJ, Maria José Braga, lembra que a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia e que toda a sociedade deve repudiar os ataques ocorridos, principalmente os desferidos pelo presidente, que deveria ser o primeiro a respeitar e defender os princípios estabelecidos na Constituição brasileira. “Os jornalistas são os verdadeiros garantidores da liberdade de imprensa e merecem reconhecimento e respeito”, conclui.
Saiba mais:
Acesse aqui a linha do tempo dos ataques em 2020.
Acesse aqui a planilha com a sistematização das ocorrências em 2020.
Ao jogar apoiadores contra jornalistas, Bolsonaro prejudica combate ao Coronavírus
Acesse aqui o Relatório de Violência Contra Jornalistas (2019).
Acesse aqui o monitoramento completo dos ataques referente ao ano de 2019.
No dia da liberdade de imprensa, ONU pede apoio a trabalhadores da mídia em meio à pandemia