O Congresso Nacional dos Jornalistas nos reservou algumas boas surpresas. Uma delas foi a presença indelével de Lucídio Castelo Branco, o Castelinho, dando conta de seus 47 anos de profissão e militância sindical. Testemunha ocular das grandes transformações do mundo do jornalismo brasileiro ele lembrou que vem de um tempo em que o jornalista era um boêmio, querendo apenas ter uma carterinha, não pagar imposto e entrar de graça nos teatros e cinemas. Não havia escolas de jornalismo e os profissionais eram práticos licenciados. “Hoje não, temos gente com compromisso social, qualificada e diplomada. Tudo isso foi fruto de uma luta”.
Lucídio começou a trabalhar em 1946, quando também conseguiu seu registro no sindicato. Naqueles dias, os jornalistas faziam jornalismo, mas tinham de garantir seu salário por outras vias. No caso dele, trabalhava também na prefeitura. Desde que começou a atuar no jornalismo, Castelinho esteve na batalha pela melhoria das condições de trabalho, acompanhou a criação dos cursos de jornalismo e, no sindicato, lutou com todas as forças pela regulamentação da profissão, coisa que só aconteceu em 1965. “É interessante lembrar que nossa profissão viveu momentos significativos nas ditaduras. Foi Getúlio Vargas quem reconheceu a profissão de jornalista em 1944 e foram os militares que garantiram a regulamentação. Mas isso não significa, de forma alguma, que tenhamos sido coniventes com o regime. Apenas fizemos a luta e vencemos. Nada nos foi dado. Foi luta”.
Lucídio Castelo Branco criticou duramente os argumentos utilizados pelos ministros que derrubaram a Lei de Imprensa. “Diziam que era um restolho da ditadura e por isso tinha de cair. Ora, foi a ditadura militar quem decretou que para ser ministro do STF a pessoa tem de ser nomeada pelo presidente. Isso aí não é restolho da ditadura?”
Tendo sido o grande articulador da regulamentação da profissão do jornalista em 1965, Castelinho se mostrou indignado com a decisão do STF e esperançoso de que os deputados revertam essa decisão com a aprovação da PEC. Com a mesma energia de quase 50 anos atrás, quando iniciou sua caminhada pelas trilhas desta profissão, ele está aí, na luta, sem descanso. Mostrou que não há tempo para fazer as grandes batalhas. Foi aplaudido de pé, longamente, pelos colegas jornalistas. Chorou. “Nunca em minha vida me senti tão feliz”. Deu uma grande lição a todos os companheiros.