O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC) participou do 40º Congresso Nacional dos Jornalistas, promovido pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entre os dias 10 e 13 de dezembro, em Brasília (DF). O evento reuniu delegações, observadores e estudantes de todo o país para debater os rumos da profissão diante de desafios históricos e contemporâneos, como a precarização do trabalho, a violência contra jornalistas e os impactos da Inteligência Artificial nas redações.
O Congresso foi encerrado com a divulgação da Carta de Brasília, documento político que sintetiza a agenda de lutas da categoria para os próximos anos. Sob o tema “Os Desafios do Jornalismo: de Gutenberg à Inteligência Artificial”, o encontro reafirmou o papel central dos sindicatos e da FENAJ na defesa do jornalismo profissional, da liberdade de imprensa e da democracia.
A abertura do Congresso foi marcada por um ato público em frente ao Congresso Nacional contra a violência aos jornalistas e em defesa da PEC do Diploma para o exercício da profissão. A mobilização, já prevista na programação, ganhou ainda mais relevância após os episódios de violência ocorridos na Câmara dos Deputados no dia 9 de dezembro, quando jornalistas foram retirados do Plenário pela Polícia Legislativa, sob ordem do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), além do desligamento das transmissões ao vivo da TV Câmara e registros de agressões físicas. As entidades classificaram o episódio como um ataque à liberdade de imprensa e ao direito da sociedade à informação.
“A Carta de Brasília reafirma o compromisso da FENAJ com um jornalismo de qualidade, plural e comprometido com a democracia e com a verdade, essencial para o pleno exercício da cidadania”, afirmou a presidenta da Federação, Samira de Castro.
Violência foi destaque nos debates
O tema da violência foi central nesta edição do Congresso dos Jornalistas. No dia 11, uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, lotou o plenário lotado de jornalistas e representantes de entidades para discutir o cenário de insegurança no exercício da profissão.
Na abertura, a presidenta da FENAJ, Samira de Castro, cobrou responsabilização pelos fatos ocorridos na Câmara e afirmou que impedir o trabalho da imprensa, seja por violência física, assédio judicial ou ataques digitais, é incompatível com qualquer regime democrático. Ela também alertou para a escalada de discursos de ódio e estratégias de descredibilização do jornalismo.
Dados do Relatório de Violência contra Jornalistas de 2024, apresentados durante a audiência, apontam o registro de 144 ataques no ano, incluindo assédio judicial, agressões físicas e censura. Em cerca de 40% dos casos, políticos, assessores ou apoiadores foram identificados como agressores. O relatório também destaca o aumento de ataques durante os períodos eleitorais.

A presidenta da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Kátia Brembatti, destacou que a entidade recebe pedidos semanais de ajuda e alertou para os impactos da violência na rotina profissional e na permanência de jovens jornalistas na profissão. Segundo ela, mulheres e pessoas negras estão entre as principais vítimas dos ataques mais graves.Representantes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), do Repórteres Sem Fronteiras (RSF), do Ministério da Justiça e jornalistas vítimas de violência na Câmara também se manifestaram, reforçando a necessidade de denunciar os ataques, fortalecer mecanismos de proteção e garantir a responsabilização dos agressores.
Delegação catarinense e protagonismo no debate
Santa Catarina esteve representada no Congresso por Fábio Bispo, presidente do SJSC, Cristina De Marco, da diretoria de Comunicação e Eventos, e pelo professor Rogério Christofoletti, integrante do Conselho de Representantes da FENAJ.
A delegação catarinense teve participação destacada ao apresentar a tese “Enfrentar o assédio judicial e a violência digital contra jornalistas”, aprovada por unanimidade pelo plenário. A proposta passa a integrar o conjunto de resoluções que orientarão a atuação da nova diretoria da FENAJ no período de 2025 a 2028.
“A violência contra jornalistas alcançou níveis inéditos durante o governo de Jair Bolsonaro, somando 1.442 casos registrados nos relatórios da FENAJ entre 2019 e 2023, o que representa, em média, uma agressão por dia. Parte significativa desses ataques ocorre por meio do assédio judicial e da violência digital, que se consolidaram como formas persistentes de intimidação”, destaca o texto da tese.

A proposta catarinense pretende aprimorar os mecanismos de monitoramento da violência contra jornalistas e fortalecer o principal instrumento de acompanhamento do tema, que é o Relatório Anual da Violência da FENAJ.
Entre as resoluções aprovadas está o fortalecimento do Observatório da Violência contra Jornalistas, do Ministério da Justiça, o acompanhamento dos principais assediadores judiciais e o fortalecimento do monitoramento da violência no próximo ano eleitoral.
O Congresso também reafirmou bandeiras históricas da categoria, como a luta contra a precarização do trabalho, a defesa de melhores condições nas redações, o uso ético das novas tecnologias e a retomada da exigência do diploma para o exercício profissional.
Nova diretoria da FENAJ
Durante o Congresso, foi apresentada a nova diretoria da FENAJ para o triênio 2025–2028. Fábio Bispo, presidente do SJSC, assume a Secretaria de Saúde e Segurança, e Rogério Christofoletti a Secretaria de Educação, Cultura e Aperfeiçoamento Profissional, mantendo a histórica a participação catarinense na direção nacional da Federação.
Fotos oficiais do Congresso – Mario Agra
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Fotos – Cristina De Marco
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