O 14º livro de Ricardo Medeiros aborda a trajetória de mulheres e homens que são fonte de inspiração e reflexão, como JB Costa, Nega Tide, Dete Piazza e Lidinho. “Gente nossa- personagens de Floripa”, narra a história de seis mulheres e quatro homens que marcaram época por suas façanhas, talentos, rebeldia e vanguardismo. Uma obra que, por meio dos homenageados, aborda a cultura local, suas manifestações artísticas e tradições, tanto do “morro” como do “asfalto”. “Memórias que certamente servirão como fonte de inspiração e de pesquisa para eternizar a gente catarinense”, frisa Medeiros. O livro será lançado no dia 18 de julho, a partir das 18h30, no Museu Histórico de Santa-Catarina-Palácio Cruz e Sousa. A 14ª obra do autor já está disponível pelo site da Dois por Quatro Editora, clique AQUI para ver.
O passista mais antigo de Florianópolis, Lidinho, a cidadã-samba seis vezes campeã no Carnaval de Florianópolis, Nega, Tide, e o poeta que representava como ninguém Cruz e Sousa, JB Costa, são alguns dos personagens retratados na obra.
Ricardo Medeiros traz ainda a fundadora de duas escolas de samba e primeira mulher a presidir uma agremiação carnavalesca, Dona Geninha, além do escrivão de polícia que foi costureiro e presidente da Protegidos da Princesa, Mário Norberto da Silva, o Marinho.
Há a Lurdes da Loteria, sempre alinhada, bem maquiada, e com uma rede prendendo o cabelo, que vendia bilhetes de loteria pelas ruas e nas repartições públicas. Outra mulher, de memorável beleza, Marisa Ramos, foi modelo no Rio de Janeiro, apresentadora na antiga TV Cultura e atuou como jornalista.
Estatura baixa, mas com elevada autoestima, Miguel Livramento destacou-se pela polêmica na crônica esportiva da Capital. Era engraçado e fazia sucesso no rádio e na tevê. Um manezinho que imortalizou frases como “Se isso não foi pênalti, minha vó é uma bicicleta” e “Esse Avaí fax côsa”.
Além de seu tempo, uma jovem foi a primeira a desfilar de minissaia na Capital catarinense, Dete Piazza. No Instituto Estadual de Educação, ganhou o apelido de “professora psicodélica”. A décima personalidade, Drica, foi uma mulher que fez da rua o seu lar. A limpeza do seu espaço era admirada pela população.
« Florianópolis é carente de resgate histórico. Se não tivermos livros, documentários sobre essa gente, estaremos sem memória. E sem memória, sem cultura, sem arte, ficamos cada vez mais pobres », aponta o jornalista Ricardo Medeiros, autor agora de 14 obras.
PERFIL DAS PERSONALIDADES
LIDINHO
Era o mais antigo passista de Florianópolis. Levava seus passos para ruas, bares e Passarela Nego Quirido quando dos desfiles da Embaixada Copa Lord. Também era presença garantida na apresentação do Berbigão do Boca, bloco que abre o carnaval da cidade. Sambou com a Globeleza Valéria Valenssa, em 1º de fevereiro de 2002, no Largo da Alfândega, e também com a diva do soul e do samba Elza Soares, em 24 de setembro de 2008, no Teatro Ademir Rosa, no Centro Integrado de Cultura. “Elza ficou olhando surpresa quando fiz aqueles passos tremidinhos dela”, relembrou Lidinho.
Era considerada a Sophia Loren catarinense. Em 1958, aos 16 anos, foi pioneira ao usar na praia um traje de banho que a população de Florianópolis chamou de biquíni, embora na verdade se tratasse de um maiô de duas peças. Deixou boquiabertos os homens e escandalizou as mulheres mais recatadas. Foi modelo e apresentadora de TV. Seu grande amor, o jornalista Adolfo Zigelli, morreu num acidente de avião, dez dias antes do casamento.
MARIO NORBERTO DA SILVA (Marinho da Protegidos)
Marinho, com 14 anos, fez o curso de Alfaiataria, mas seguiu a profissão de escrivão de polícia. Com a morte da filha, passou a cuidar da educação da neta. Em 1956, estreou no carnaval da cidade na Comissão de Frente da Protegidos da Princesa.Foi presidente da agremiação pela primeira vez em 1965, conquistando o tricampeonato, bem como assumiu a escola em 1974.
LOURDES MARIA, LURDINHA OU DINHA
Vendia loteria. Pegava em uma loja bilhetes por consignação. Para chamar a atenção de possíveis fregueses, usava uma castanhola caseira feita com caixa de fósforos, com um palito amarrado em uma das extremidades. Tamborilando o instrumento de percussão, interpelava as pessoas pela ruas da cidade. Vai um bilhete, senadô? E o doutô, vai querer um bilhete?, dizia a mulher com uma redinha na cabeça para prender os cabelos e bastante base no rosto.
MIGUEL LIVRAMENTO
Participou da equipe esportiva de diversas emissoras de rádio e televisão. Com 1,58 metro de altura e autoestima elevada, gostava de desfilar pelas ruas sempre alinhado, com sapato branco e cinto da mesma cor. Avaiano, fazia críticas ferozes contra jogadores, dirigentes e torcedores, além dos árbitros. Suas frases são repetidas pela população. “Se isso não foi pênalti, minha vó é uma bicicleta”. “Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa completamente diferente”. “Esse Avaí fax côsa”.
NEGA TIDE
Erotides Helena da Silva, aos 19 anos, foi aclamada pela primeira vez cidadã samba da Capital, título conquistado em mais cinco oportunidades. Com 1,82 metro de altura e um temperamento forte, ficou conhecida pela frase: “Nega Tide é Protegidos de Coração e Copa Lord por convicção”.
DRICA
Moradora de rua, Adriana Teixeira Coelho, já trabalhou com tudo e pariu cinco filhos. A Rua Rui Barbosa, no bairro Agronômica, foi o seu terceiro lar.Drica tem os dias dela, com a “mente full” de crack. Quando está sóbria, toma banho e coloca “roupa nova”.
DONA GENINHA
Viúva, Jesuína Adelaide dos Santos, sustentou a família, com a produção de rendas de bilro e crivo. Na década de 1950, vinda da Freguesia do Ribeirão da Ilha, rumou para o Centro até instalar-se no Balneário do Estreito. Com amigos, fundou duas escolas de samba : Os Filhos do Continente (1958) e Império do Samba (1971). Dona Geninha foi a primeira mulher a comandar uma agremiação na Capital.
JOÃO BATISTA COSTA (JB)
Figura conhecida na cidade, JBera fascinado pelo catarinense João da Cruz e Sousa. Representou em diversosespaços o escritor que ficou conhecido como CisneNegro.Trabalhou na FundaçãoFranklinCascaes, órgão cultural da Prefeitura.
DETE PIAZZA
Nos anos 1960,na Rua Felipe Schmidt,em plena luz do dia, desfilou com a primeira minissaia que se teve notícia em Florianópolis. Foi exercendo o magistério que recebeu o apelido de « professora psicodélica ».Não como uma droga que causa alucinações. Mas, como alguém diferente do dito normal, que estimula a alteração da consciência das pessoas para que possam explorar novas maneiras de ver a realidade e que possam ter novas experiências.Independente, nunca se casou. « Pois, eu sou a Dete da Dete ».
PERFIL DO AUTOR
Nascido em Joaçaba (SC), com exceção de quatro anos vividos no exterior para estudar, tem 46 anos de residência em Florianópolis. Recebeu o diploma de Cidadão Honorário da capital catarinense e o troféu Manezinho da Ilha Aldírio Simões.
Cultuando personalidades exponenciais, é autor das obras “Zininho-uma canção para Florianópolis“, “Uda Gonzaga-a primeira-dama do Morro da Caixa” e “Aldírio Simões- o manezinho-maior”. Também assina “Dramas no rádio-a radionovela em Florianópolis nas décadas de 50 e 60” e “Caros ouvintes-os 60 anos do rádio em Florianópolis”.
Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, em 1986, é doutor em rádio pela Le Mans Université, na França. Já lecionou em três instituições de ensino superior : Unisul, Estácio SC e UFSC. É assessor de Comunicação da Secretaria de Educação da Prefeitura de Florianópolis.