“O caso Herzog cumpriu o papel de despertar a consciência nacional contra a ditadura militar e é considerado o marco zero da redemocratização do País”. A afirmação é do jornalista Audálio Dantas, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), que falou nesta terça-feira (10) para uma plateia de profissionais da imprensa, sindicalistas e estudiosos, após o lançamento do seu livro “As duas guerras de Vlado Hezorg – da perseguição nazista na Europa à morte sob tortura no Brasil”, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis.
Sob o tema “Verdade e justiça – o papel dos jornalistas na redemocratização do Brasil”, a fala de Audálio Dantas provocou o debate entre os participantes, no Plenarinho Paulo Stuart Wright. O evento foi uma promoção do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, da Associação Catarinense de Imprensa, da Academia Catarinense de Letras e do Parlamento catarinense.
Passados 30 anos do período de violência, tortura e opressão gerados pela ditadura, o jornalista decidiu escrever o livro, mas, confessa, com alguma relutância e muitos receios. “Como vivi o problema intensamente eu não queria que a minha emoção interferisse na obra; foi difícil manter o distanciamento”, contou. O autor considera a produção do livro como uma dívida que tinha que quitar. “Precisava denunciar as violências cometidas na época e deixar esse registro”.
Segundo Audálio Dantas a grande imprensa apoiou o golpe militar de 1964. A despeito disto, o regime imposto censurou os veículos de comunicação e perseguiu com especial interesse os profissionais da imprensa. “Os jornalistas se comportavam como testemunhas mudas”, lembra Audálio, já que eram impedidos de denunciar e tinham de publicar tão somente a versão oficial autorizada.
Na palestra, o ex-líder sindical recordou a morte de Vlado (Vladmir Herzog), que gerou grande comoção popular. “Foram montadas 333 barreiras de policiais armados para impedir o movimento das pessoas, mas mesmo assim cerca de 8 mil conseguiram chegar a pé até a Catedral da Praça da Sé, onde acontecia o culto ecumênico em homenagem a Vlado. Nesse momento era perceptível a mudança que começa a acontecer e que iria marcar a história do Brasil”, lembra.
Audálio Dantas destacou a importância de denunciar as torturas cometidas na ditadura e resgatar a memória dos que foram mortos. Ele lembrou que logo após a morte de Vladimir Herzog, o operário Manuel Fiel Filho foi também torturado e morto, na mesma cela de Vlado. “Nesse caso o comandante foi demitido, mas não houve nenhuma manifestação no caso do operário. Faltou, na época, quem denunciasse esse assassinato”, disse.
A obra
Numa grande reportagem, o jornalista narra a saga da família Herzog em sua fuga desesperada da Iugoslávia (atual Croácia), para longe do horror da guerra – que despedaçava a Europa e perseguia cruelmente os judeus – até a chegada ao Brasil. Aqui, o pequeno Vlado não poderia imaginar quão dolorosas seriam as lições que teria na vida, culminando com sua morte na escuridão de uma sala de tortura.
Em 29 de outubro de 1975, Audálio Dantas denunciou a morte sob tortura do jornalista Vladimir Herzog no DOI-CODI, contrapondo-se à versão oficial das autoridades militares de que Vlado teria cometido suicídio. Por este episódio e suas ações constantes contra a repressão no período, Dantas é considerado um dos ícones da resistência contra a ditadura militar.
Trajetória
Em 1975, ano em que o jornalista Vladimir Herzog foi morto nos porões do Doi-Codi, em São Paulo, Audálio Dantas era presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Em 1978 foi eleito deputado federal pelo MDB paulista. Mais tarde, em 1983, foi o primeiro presidente eleito por voto direto na Federação Nacional dos Jornalistas. Atualmente, ele preside a Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas, criada pela Fenaj. Dantas é autor dos livros “O circo do desespero”, “Tempo de Luta – reportagem de atuação parlamentar” e o “Chão de Graciliano”.
Kalyne Carvalho
Jornalista Profissional – 0004107SC
Assessora de Imprensa – Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina
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Com informações da Agência AL
Foto: Miriam Zomer