Celso Augusto Schröder
Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ
O destino de Zero Hora e da RBS parece estar traçado. Ele tem sido cuidadosamente desenhado nestes últimos anos, décadas na verdade. Não pelo desenhista maligno do Retrato de Dorian Gray, mas pelos próprios donos. Esta espécie de suicídio editorial planejado não chega a ser inédito no mundo empresarial da comunicação, mas tem uma certa singularidade na rapidez e radicalidade com que vem acontecendo nesta empresa que herdou da Caldas Jr. o quarto ou quinto mercado editorial do país.
Dias atrás demitiu seu diretor de arte. Luiz Adolfo Lino de Souza é um dos principais jornalistas de design gráfico do Brasil. Espécie de menino prodígio no planejamento gráfico de jornais, fez as reformas gráficas da extinta Folha da Tarde, da Caldas Jr., ainda estudante na década de 1970, implementou o novo Correio do Povo em meados dos anos 80, fez todas as reformas e implantações de jornais do grupo RBS, além de prestar consultoria para outros tantos jornais no sul do país. Com sólida formação acadêmica e professor na PUCRS há 25 anos, Luiz era uma espécie de unanimidade que resistiu durante quase três décadas às várias ondas de demissões, frutos das experiências administrativas tão ao gosto da empresa. Foi ele quem avalizou a última reforma gráfica/editorial do jornal Zero Hora, que pela profundidade já indicava a confusão na gestão e a opção pela mudança no foco da empresa, anunciado de uma maneira infantilmente atabalhoada pelo novo delfim familiar.
Demissões são, infelizmente, comuns neste tipo de negócio, mais assentado na capacidade de fazer chantagens e construir relações, muitas vezes promíscuas, com governos e grupos políticos/empresariais, do que numa salutar concorrência e busca de financiamento nos seus consumidores. Porém, a RBS, líder também neste expediente, exagera e parece que virou o fio. Abdicou nestes últimos anos de excelentes profissionais, esvaziou setores inteiros, desestruturou a redação ao acabar com as editoriais, perdeu credibilidade ao apostar numa dimensão partidária, titubeou quanto à sua vocação empresarial e, por livre e espontânea vontade, sobe lépida e faceira na prancha da pirataria.
Se a onda que se aproxima for similar à da ficção, o navio/empresa já estará de borco. Antes mesmo da suposta crise real que poderá atingir o setor de impressos, os jornais da RBS já se jogam de bruços e capitulam da sobrevivência. Ao contrário do patriarca, a nova geração prefere cervejas e vinhos à comunicação, e opta pelo abandono do negócio que, afinal de contas, foi o que construiu a fortuna familiar, certamente bem resguardada das aventuras juvenis. Do ponto de vista público, parece-me que seria justo entregar, junto com a história familiar, as concessões públicas de TV e Rádio que exigem, constitucionalmente, a produção de jornalismo, junto com o entretenimento e a cultura.