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Conflitos no Egito e na Tunísia e os desafios de uma cobertura inusitada

As barreiras impostas pela comunicação tendem a se diluir quando há disponibilidade de diálogo. A comprovação disso foi a entrevista feita na tarde dessa quarta-feira, dia 9, com um representante de uma ONG egípicia e uma estudante de arquitetura tunisiana. Feita em três línguas – francês, árabe e inglês – com a colaboração de jornalistas canadenses, a conversa esclarecedora demonstrou o quão importante é estar disponível e aberto para entendimento mútuo, botando por terra barreiras políticas e fronteiras.

A proximidade geográfica do Senegal com o Egito e com a Tunísia facilita a vinda de representantes desses países ao FSM. Todos os dias há protestos e mobilizações de representantes desses países pelas ruas do campus da universidade de Dakar.

Foi em uma dessas mobilizações que surgiu a oportunidade de entrevistar Mohamoud El-Adawy, representante do Centro de Desenvolvimento para Consulta e Treinamento, uma Ong da cidade do Cairo. Quando perguntado sobre qual é a atual perspectiva do povo egípicio na luta pela queda do regime imposto pelo presidente Hosni Mubarak, Mohamoud afirma com convicção que a única perspectiva aceitável é a queda de Hosni. Essa afirmativa reforça o quanto o povo egípicio está firme na luta contra o atual regime. Mohamoud também reforça o quanto os egípicios estão unidos. Ele diz que na terça, dia 8, um protesto encabeçado por jornalistas egípicios para anular uma reunião ministerial se transformou em mais uma grande manifestação popular.

Com um sorriso que expressava tristeza, o ativista egípicio diz que o atual governo é estúpido porque toma decisões que vão contra a vontade do povo, e isso que tem sido o principal motivo para as constantes manifestações. Com as restrições políticas no país, todos os partidos de oposição migraram para uma nova forma de organização em busca de reaver poder político. Agora, os partidos oposicionistas ao governo de Mubarak se tornaram todos Ongs.

O clima de conflito em alguns países africanos tem razões diversas e similares ao mesmo tempo. A estudante de arquitetura da Tunísia, Rym Klila, presente na mesma entrevista feita no meio da rua, explica que em seu país as motivações do conflito são mais por uma briga de gerações do que por razões unicamente políticas. Segundo Rym, a juventude tunisiana busca maior liberdade, liberdade essa tolhida pela postura conservadora das gerações mais antigas. A chamada “revolução do celular” demonstra o poder das novas tecnologias e da comunicação no acesso à informação e na possibilidade de articulação. Foi através do aparelho – comum em todas as partes do mundo hoje – que jovens estudantes articularam os protestos em busca de democracia no país. O acesso à internet também foi uma das razões para as transformações na consciência da juventude tunisiana.

A força demonstrada por esses povos reforça a necessidade de união em prol das lutas populares. Mesmo com Estados armados e repressores, essas pessoas têm consigo revolucionar a conjuntura política africana. Se torna cada vez mais difícil, em um mundo dinâmico e globalizado, manter determinadas políticas de opressão. As novas gerações têm hoje maior conhecimento e capacidade de articulação que as anteriores não tiveram.

No final da tarde dessa quarta, 09, um grupo realizou uma passeata pela libertação desses países. A solidariedade de vários representantes de países de todo mundo podia ser vista nos gritos de Liberté Egipt, free Tunísia! Ficou no ar a sensação de que a língua, a nacionalidade ou a orientação política não dizem nada quando o motivo é liberdade e humanidade.

Foto: Mohammed Abed/AFP

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